Um grupo de estudantes e imigrantes brasileiros criou um movimento em Portugal para combater a ascensão da extrema-direita nos dois países e para ajudar compatriotas que saiam do Brasil devido à situação política.
“O propósito da Frente de Imigrantes Brasileiros Antifascistas do Porto [FIBRA] é actuar no contexto português, acompanhando o que acontece no Brasil, em relação à ascensão da extrema-direita. No Brasil já ascendeu ao poder, aqui começam a haver alguns sinais. A Europa está infestada de grupos que já beliscaram o poder, e surgimos para fazer frente a isso e ajudar os grupos que já existem no contexto português”, referiu à Lusa Juliano Mattos, 36 anos, um fotógrafo com mãe portuguesa e residente em Portugal há 18 anos.
Criado há cerca de dois meses, o grupo pretende, além de acções de rua, promover comunicação e propaganda através das redes sociais e realizar outros eventos, como projecções de filmes ou documentários, tal como ajudar novos imigrantes brasileiros que cheguem a Portugal.
A FIBRA é composta por cerca de 50 pessoas, “maioritariamente mulheres e, apesar de imigrantes e estudantes universitários, quase todos vêm da periferia do Brasil”, algo que diz ser importante para “não criar a imagem de ‘esquerda caviar’”, disse Juliano Mattos.
Inicialmente eram um grupo de amigos que participavam e organizavam acções de activismo no Porto, depois começou a surgir a necessidade de “formalizar para dar uma aparência mais organizada” e de forma a poder “estabelecer contactos e actuar de forma mais visível”, aquando da eleição de Jair Bolsonaro como Presidente do Brasil, explicou.
“Esperamos que ninguém seja obrigado a fugir do Brasil, que seja uma escolha por não quererem estar lá. O alcance — limitado — que temos permite-nos ajudar com as questões burocráticas de quem chega. Não ajudando à ‘fuga’ como um todo, mas quando as pessoas cheguem a Portugal estabelecer algum tipo de ajuda burocrática, ou dar aulas de inglês”, indicou.
A FIBRA, explicou o representante, é um “grupo pacífico, sem ideias de confrontação física”.
“Não temos nenhuma intenção de ser um grupo violento, apenas se for necessária a autodefesa. Temos pensado em fazer alguns cursos de autodefesa para mulheres, sobretudo. No dia da primeira manifestação contra [o Presidente do Brasil, Jair] Bolsonaro, na primeira volta das eleições brasileiras, houve uma ameaça de alguns apoiantes de Bolsonaro. Foi um ‘bluff’, mas deixou gente assustada, não dá para levar essas coisas na brincadeira”, esclareceu.
Sobre o contexto português, Juliano Mattos considerou que Portugal “sempre foi uma excepção, porque não existe uma dinâmica social que possibilite a ascensão da extrema-direita”, mas deixou o exemplo da eleição do candidato da extrema-direita no Brasil como aviso, acrescentando que o “perigo não é tão iminente, mas não é descartável”.
“O partido de Bolsonaro, nas eleições de 2014, elegeu um deputado para a Câmara de Deputados. Desta vez, como aglomerou toda a extrema-direita brasileira, elegeu 52 e tornou-se a segunda força política. Em Portugal há cerca de cinco grupos da extrema-direita e, apesar de não terem ainda conseguido identificar a linha do populismo para seguirem, têm articulado contactos e tácticas com grupos de outros países”, vincou.
Sobre as declarações do Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, que classificou o encontro com o seu homólogo como uma “reunião entre irmãos”, após a posse de Jair Bolsonaro, no início do mês, o activista lamentou a forma como o português “tentou assumir um papel central” e lançou um apelo ao chefe de Estado.
“Em vez de tentar criar irmandades ou conciliação com o neofascismo brasileiro, que tente reforçar os contactos e proximidade com a democracia brasileira, não só da esquerda, mas de todo o espectro político para que, internacionalmente, se faça uma pressão suficiente para impedir os anseios do novo Governo, porque eles são muito claros”, frisou.
Lusa